Sobre amor e copos meio vazios

“Se você ama alguma coisa, deixe-a livre. Se voltar, é sua. Se não voltar, nunca foi.”

Durante muito tempo eu achei que essa frase era mais um ditadinho popular bonito que caiu no gosto da galera. Hoje resolvi dar um google e acabei descobrindo o nome da autora: Sarah Mengel. Descobri o nome e só. Encontrei outros textos dela, mas nada sobre ela. Nada que diga como ela conseguiu formular essas três frases de forma tão pura e simples, sem objeção nem sofrimento.

Provavelmente mais alguém aqui concorda com as aspas da moça e eu digo que concordo também. Concordo, mas… pôr em prática? Praticamente impossível. Como alguém que ama, com todas as forças e em sã consciência, tem a capacidade de abrir os braços, abrir mão de tudo? Assim, sem desejar nada em troca, mas no fundo esperando que o outro volte?

Minha angústia não permite isso. Acho bonito quem tem essa capacidade de deixar as coisas acontecerem, deixar tudo no ar, leve e solto. Acho belo, de verdade. Acho belo e admiro, principalmente porque sou incapaz de fazer algo do gênero. Qualquer coisa do gênero.

Não sei em que momento isso aconteceu, mas finalmente me dei conta de que não sei amar de longe o que não tenho. É praticamente impossível manter laços estreitos com o que não é próximo, com o que não dá retorno.

O que acontece? Bem, começa sempre de uma forma bonita: é a época do “vamos manter contato” e do “acho que estou apaixonada”. A vida segue com os passarinhos cantando até que eu me dê conta de toda a angústia caminhando par a par com a felicidade, que tinha tudo pra ser ótima. Alguém me disse que tinha tudo para ser ótima, eu me lembro disso. Eu me lembro, mas infelizmente não consigo acreditar. De feliz à angustiada eu passo em dois segundos e não encontro mais o caminho de volta.

É como dirigir num dia ensolarado e mergulhar num túnel sem fim. O caminho de volta não surge enquanto eu não tiver certezas, não tiver confirmações, fatos. Não me importa se são permanentes: às vezes a gente acaba se enganando para manter o sorriso. O caminho só volta, enfim, quando eu tiver. Tiver, do verbo “ter”. Mas.. Não amar enquanto não ter? O certo não seria amar para depois ter? Se é que se pode ter, é claro.

É linda a habilidade de amar e deixar livre, mas eu não tenho nervos para esperar a “coisa” voltar. De uma certa forma, acho isso tudo um pouco blasé e não entendo como é possível não sofrer. Simplesmente não faz o menor sentido pra mim. Eu amo como num livro de romance, como numa tragédia Shakespeariana (quite dramatic!) e não sei esperar. A vida está passando pelos nossos olhos, porque, ó ceus, eu tenho de esperar?

Mesmo quando eu brinquei de me enganar, quando eu brinquei de ser blasé e não me entregar, eu sofri no final. Só entrei no jogo para não sofrer e, é óbvio!, sofri porque eu não nasci pra isso. Eu não sou assim. Não fui feita pra viver pela metade, nasci pra ser inteira. Esperar, definitivamente, não está nos meus planos. Por que segurar o copo meio vazio se eu posso entornar o copo transbordando?

Acho lindas suas frases, Sarah Mengel. Acho contemporâneas. Acho até que talvez existam pessoas que sigam isso a risca com o sorriso no rosto e sem lágrimas na cabeça. Só que eu não as compreendo. Se fosse possível evitar o tombo, jamais saltaríamos. Sem saltar… Por que estar aqui, mesmo?

Vocês podem até pensar que eu me contradigo, pois dias atrás eu disse que ninguém topava sofrer. Eu continuo não topando sofrer e realmente me sinto bastante boba quando isso acontece. O fato é que o sofrimento é inevitável quando você simplesmente não nasceu pra jogar. Eu nasci pra olhar nos olhos.

Para quem quiser trilha sonora: To Have and not to hold – Madonna.
“…To have and not to hold/ So hot, yet so cold/ My heart is in your hand/ And yet you never stand/ Close enough for me to have my way/ To love but not to keep/ To laugh, not to weep/ Your eyes, they go right through/ And yet you never do/ Anything to make me want to stay…”